Artigos abordando o tríplice aspecto da Doutrina Espírita e a história do movimento espírita; Mensagens de esperança, de fé e de paz e Preces espíritas consoladoras !
quinta-feira, 24 de novembro de 2016
MADAME ALLAN KARDEC
Amélie-Gabrielle Boudet nasceu no dia 23 de Novembro de 1795, correspondente ao dia 2 do Frimário do Ano IV, do então vigente calendário Revolucionário, na cidade de Thiais, na França.
Nesta sua última encarnação, teve como pais o Sr. Julien-Louis Boudet, Tabelião, e Sra. Julie-Louise Seigneat de Lacombe. Possuira uma família de renomados intelectuais e de pessoas bem colocadas na vida.
Como filha única, tivera uma educação de altíssima qualidade igualmente àquela em que as pessoas de posse à época recebiam. Naquele tempo havia muitas escolas internatos para moças de 15 a 18 anos. Formou-se Professora de primeira classe, Letras e Belas Artes. Culta e inteligente, com pendor para a poesia e o desenho, escreveu três obras: Contos Primaveris (1825), Noções de Desenho (1826) e O Essencial em Belas Artes (1828).
No dia 6 de Fevereiro de 1832 casou-se com um jovem diretor de instituto de ensino chamado Prof. Hippolyte Leon Denizard Rivail, que mais tarde seria conhecido como Allan Kardec. A Sra. Rivail secundou o seu marido em todos os seus afazeres de professor e educador, sempre como muito amor e dedicação.
Assim a descreve Canuto Abreu no seu livro “O Livro dos Espíritos e Sua Tradição Histórica e Lendária”: “Miudinha, graciosa, muito vivaz, aparentava a mesma idade do marido, apesar de nove anos mais velha. Os cabelos crespos e bastos, outrora castanhos, repartidos ao meio e descidos até os ombros, onde as pontas dobradas se prendiam por sobre a nuca num elo de tartaruga, começavam apenas a grisalhar, dando-lhe ao semblante um ar de amável austeridade. As faces cheias, coradas ao natural, quase sem rugas, denotavam trato e boa saúde. A testa larga e alta, encimando sobrancelhas circunflexas, acusava capacidade intelectual. Os olhos pardos e rasgados, indicavam sagacidade e doçura. O nariz fino e reto, impunha confiança em seu caráter. Os lábios delicados, prontos a sorrir, amparavam seu olhar perscrutador, desarmando prevenções mas exigindo constante respeito”.
Quando Rivail, com o lançamento de “O Livro dos Espíritos”, em 18 de Abril de 1857, tornou-se Allan Kardec, Gaby, como era carinhosamente chamada por ele, esposou integralmente a “missão da vida” do seu nobre esposo. Ajudou-o na publicação dos seus livros espíritas, na redação da “Revista Espírita” e nas atividades da “Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas” (SPEE), sendo em tudo o seu braço forte.
No ano fatídico da desencarnação de Allan Kardec, em 1869, Madame Kardec estava com 73 anos e herdou todos os direitos relativos às obras de Kardec e também imóveis seus que, nos planos do codificador, seriam utilizados futuramente para amparar espíritas que estivessem passando por alguma dificuldade financeira.
Madame Allan Kardec, mesmo diante da perda do esposo, continuou como grande divulgadora da doutrina espírita, tendo ao longo de sua jornada o apoio incondicional de um grande discípulo de Kardec, Pierre Gäetan Leymarie. Dentre suas várias ações objetivando vulgarizar o Espiritismo, está a fundação da “Sociedade anônima do Espiritismo” em 1869. Porém não satisfeita com o nome da Sociedade, que possuía um viés comercial, Amelie, em 18 de outubro de 1873, em Assembléia Geral, na SPEE, o altera para “Sociedade para a Continuação das Obras Espíritas de Allan Kardec”.
Quase uma década depois, às 5 horas da madrugada do dia 21 de janeiro de 1883, desencarnava pois este grande ícone do espiritismo. Tinha então 87 anos e ainda assim desfrutava de uma incrível vivacidade, conseguindo ler sem a ajuda de óculos e escrever com firmeza, pronta para dar continuidade à missão iniciada pelo seu esposo.
No seu funeral, Gabriel Dellane, grande cientista espírita e pupilo de Kardec, assim desenha a missão de Gaby: “A Sra. Allan Kardec foi, verdadeiramente, a mulher forte, segundo o Evangelho. Tornando-se a esposa do grande vulgarizador do Espiritismo, adotou suas idéias. Empregou todas as suas energias no estudo dos novos princípios; venceu os preconceitos de seu século e de sua educação e se elevou, por sua vontade, até à altura do espírito de nosso Mestre.”
“Ela provou, pela continuidade, pelo profundo apego que manteve por nossa maneira de ver, que o Espiritismo havia penetrado vivamente em seu coração.”
“Sim, essas grandes e sublimes verdades que nossa filosofia professa lhe deram a coragem de ajudar ardentemente o propagador da nova fé e sustentá-lo nas lutas muitas vezes penosas de apostolado.”
“A companheira de um homem superior sente quantos deveres particulares lhe cabem; não somente ela tem, como toda esposa devotada, a tarefa de o cercar de amor e de atenções, porém, tem, além disso, a santa missão de fortalecer sua alma nas horas dolorosas das provas. Deve acalmar os cruéis ferimentos que fazem ao coração dos campeões do progresso o ódio e o sarcasmo. Ela deve encontrar essas boas palavras que são para a alma bálsamos soberanos. Deve, enfim, por sua energia, dar forças ao atleta fatigado.”
“Pois bem, a Sra. Allan Kardec foi essa mulher; não faliu na alta missão que lhe foi confiada.”
“Durante as viagens de seu marido, pela França, ela o cercou com sua solicitude e sua perspicácia, confundindo, muitas vezes, pela segurança de seu julgamento, os que desejavam explorar a bondade tão conhecida do Mestre.”
“Allan Kardec se inspirou em sua inteligência tão justa para a elaboração de suas obras; não as publicou nenhuma, sem a ter consultado e, muitas vezes, aproveitou suas sugestões que a retidão de julgamento de sua companheira fornecia.”
“É pois, uma dupla perda que temos neste momento: a de uma mulher de coração, devota às nossas idéias e a de uma colaboradora do homem de gênio que nós recordamos.”(1) .
Por fim, podemos declarar que Amelie e Kardec foram companheiros na vida, nos sonhos e nos ideais, sendo a máxima: “por trás de um grande homem, há sempre uma grande mulher” verdadeiramente representada por Amélie Gabrielle Boudet, Madame Allan Kardec!
(1) Gabriel Delanne, Vida e Obra - Paul Bodier e Henri Regnault.
Por Ramsés da Silva Mesquita Maciel
Dirigente do CEAL
* Artigo publicado originalmente no jornal "Correio Popular" de Imperatriz/MA no dia 30.06.2013
terça-feira, 15 de novembro de 2016
A PRECE DE CÁRITAS
Transmitida pelo espírito chamado Cáritas, por intermédio da médium Mme. W. Krell, na noite de Natal em 25 de dezembro de 1873, a um grupo espírita da cidade de Bordeaux, na França, a Prece de Cáritas é uma das preces espíritas mais belas e mais conhecida de todos os tempos! Cáritas, espírito iluminado, assim apresentou-se a médium madame Krell no primeiro encontro de ambas: “Chamo-me Caridade, sou o caminho principal que conduz a Deus; segui-me eu sou a meta a que vós todos deveis visar”. Na verdade, sabe-se muito pouco sobre este espírito evoluído, como bem se observa na informação contida na Revista Espírita de 1862, no mês de Fevereiro: “Todas as comunicações de Cárita são marcadas pelo mesmo sinete de bondade e de simplicidade. Evocada na Sociedade de Paris, disse ter sido Santa Irene, imperatriz.”.
Outra informação também está presente na assinatura de uma das suas mensagens presente no livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, capítulo XIII, item 13: “Cárita, martirizada em Roma.”. Conclui-se portanto, que Cárita ou foi a Irene de Atenas, uma Imperatriz bizantina que reinou entre 797 e 802 d.C, ou a Santa Irene, martirizada em Roma no ano de 304 da era cristã, época em que reinava o Imperador Diocleciano, sanguinário perseguidor dos cristãos. Mais curiosidades: uma das irmãs da santa Irene se chamava Ágape, um dos nomes do amor, sinônimo de caridade (Cárita).
O espírito Cáritas era muito querido na época do surgimento da Doutrina Espírita como nota-se nesta passagem: “Foi conduzida aqui por um Espírito muito conhecido do mundo espírita lionês e, mesmo, do mundo espírita europeu (o sonâmbulo-médium descreve o Espírito Cárita).” (1)
Cáritas transmitiu várias outras lindas mensagens, dentre elas: "Como servir a religião espiritual" e "A esmola espiritual". Há ainda comunicações deste nobre espírito inseridas nas obras da Codificação, duas no “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, capítulo XIII, Não Saiba A Vossa Mão Esquerda O Que Dê A Vossa Mão Direita, itens 13 e 14; e várias mensagens nas Revistas Espíritas, anos de 1862, 1864, 1865 e 1867, de Allan Kardec.
A Madame Krell, uma das maiores médiuns psicográficas do século XIX, recebeu mensagens de outros nobres espíritos da literatura universal e da Codificação Espírita como Alfred de Musset, Edgard Allan Poe, Espírito de (da) Verdade, Dumas, Lacordaire, Lamennais, Pascal, Ésopo, Fénelon, entre outros. As belíssimas comunicações mediúnicas desta excepcional médium estão quase todas compiladas nesta obra “Rayonnementes de la Vie Spirituelle”, ou na versão brasileira, “Reflexos da Vida Espiritual”, publicado pela editora CELD. Um detalhe chama a atenção no original francês deste livro, o nome do espírito Cáritas, está grafado Cárita, no singular, no entanto, popularizou-se no plural.
A Oração de Cáritas de maneira simples e atemporal, inspira a busca da comunhão entre Deus e o homem, fazendo com que este reconheça sua fragilidade, impotência e dependência deste diante do poder divino, como se observa na sua transcrição integral:
“Deus, nosso Pai, que sois todo Poder e Bondade, dai a força àquele que passa pela provação, dai a luz àquele que procura a verdade; ponde no coração do homem a compaixão e a caridade!
Deus, Dai ao viajor a estrela guia, ao aflito a consolação, ao doente o repouso.
Pai, Dai ao culpado o arrependimento, ao espírito a verdade, à criança o guia, e ao órfão o pai!
Senhor, que a Vossa Bondade se estenda sobre tudo o que criastes. Piedade, Senhor, para aquele que vos não conhece, esperança para aquele que sofre. Que a Vossa Bondade permita aos espíritos consoladores derramarem por toda a parte, a paz, a esperança, a fé.
Deus! Um raio, uma faísca do Vosso Amor pode abrasar a Terra; deixai-nos beber nas fontes dessa bondade fecunda e infinita, e todas as lágrimas secarão, todas as dores se acalmarão.
E um só coração, um só pensamento subirá até Vós, como um grito de reconhecimento e de amor.
Como Moisés sobre a montanha, nós Vos esperamos com os braços abertos, oh Poder!, oh Bondade!, oh Beleza!, oh Perfeição!, e queremos de alguma sorte merecer a Vossa Divina Misericórdia.
Deus, dai-nos a força para ajudar o progresso, afim de subirmos até Vós; dai-nos a caridade pura, dai-nos a fé e a razão; dai-nos a simplicidade que fará de nossas almas o espelho onde se refletirá a Vossa Divina e Santa Imagem.
Assim Seja.”
Por fim, que esta Divina prece possa vivificar a presença do Cristo em nossas vidas e que a paz e o consolo divino possam alcançar a todos através desse manancial de luz trazido pela espiritualidade superior!
(1) Revista Espírita – 1865 – Dezembro - FEB
Por Ramsés da Silva Mesquita Maciel (Dirigente do CEAL)
* Artigo publicado originalmente no jornal "Correio Popular", de Imperatriz/MA, no dia 09.12.2012.
quarta-feira, 2 de novembro de 2016
ANTE OS QUE PARTIRAM
Nenhum sofrimento, na Terra, será talvez comparável ao daquele coração que se debruça sobre outro coração regelado e querido que o ataúde transporta para o grande silêncio.
Ver a névoa da morte estampar-se, inexorável, na fisionomia dos que mais amamos, e cerrar-lhes os olhos no adeus indescritível, é como despedaçar a própria alma e prosseguir vivendo...
Digam aqueles que já estreitaram de encontro ao peito um filhinho transfigurado em anjo da agonia; um esposo que se despede, procurando debalde mover os lábios mudos; uma companheira, cujas mãos consagradas à ternura pendem extintas; um amigo que tomba desfalecente para não mais se erguer, ou um semblante materno acostumado a abençoar, e que nada mais consegue exprimir senão a dor da extrema separação, através da última lágrima!
Falem aqueles que, um dia, se inclinaram, esmagados de solidão, à frente de um túmulo; os que se rojaram em prece nas cinzas que recobrem a derradeira recordação dos entes inesquecíveis; os que caíram, varados de saudade, carregando no seio o esquife dos próprios sonhos; os que tatearam, gemendo, a lousa imóvel, e os que soluçaram de angústia, no adito dos próprios pensamentos, perguntando, em vão, pela presença dos que partiram...
Todavia, quando semelhante provação te bata à porta, reprime o desespero e dilui a corrente da mágoa na fonte viva da oração, porque os chamados mortos são apenas ausentes e as gotas de teu pranto lhes fustigam a alma como chuva de fel.
Também eles pensam e lutam, sentem e choram.
Atravessam a faixa do sepulcro como quem se desvencilha da noite, mas, na madrugada do novo dia, inquietam-se pelos que ficaram... Ouvem-lhes os gritos e as súplicas, na onda mental que rompe a barreira da grande sombra e tremem cada vez que os laços afetivos da retaguarda se rendem à inconformação ou se voltam para o suicídio.
Lamentam-se quanto aos erros praticados e trabalham, com afinco, na regeneração que lhes diz respeito.
Estimulam-te à prática do bem, partilhando-te as dores e as alegria.
Rejubilam-se com as tuas vitórias no mundo interior e consolam-te nas horas amargas para que te não percas no frio do desencanto.
Tranqüiliza, desse modo, os companheiros que demandam o Além, suportando corajosamente a despedida temporária, e honra-lhes a memória, abraçando com nobreza os deveres que te legaram.
Recorda que, em futuro próximo que imaginas, respirarás entre eles, comungando-lhes as necessidades e os problemas, porquanto terminarás também a própria viagem no mar das provas redentoras...
E, vencendo para sempre o terror da morte, não nos será lícito esquecer que Jesus, o nosso Divino Mestre e Herói do Túmulo Vazio, nasceu em noite escura, viveu entre os infortúnios da Terra e expirou na cruz, em tarde pardacenta, sobre um monte empedrado, mas ressuscitou aos cânticos da manhã, no fulgor de um jardim.
Emmanuel
Fonte: "Religião dos Espíritos", Francisco C. Xavier (Médium) / Emmanuel (Espírito) - FEB
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